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O Dia dos Povos Indígenas: memória, resistência e reconhecimento

 


Por Thaissa Gabrielle e Vitor Casaril

O Dia dos Povos Indígenas, mais do que uma data simbólica, é um convite à reflexão crítica sobre as narrativas históricas que silenciaram violências e apagamentos. É uma data que simboliza a luta, a resistência e a diversidade dos povos originários do Brasil e de toda a América.

Desde a invasão colonial, os povos indígenas enfrentam a expropriação de seus territórios, a destruição de suas culturas e a negação de seus direitos. Durante muito tempo, foram retratados de forma pejorativa, presos a uma dicotomia entre o “índio civilizado” e o “selvagem”. Essa visão reducionista apagou a riqueza cultural, a diversidade de línguas, saberes e modos de vida desses povos.

Desde o período colonial, os indígenas foram vistos como mão de obra escravizada por uma sociedade que renegava e subjugava suas crenças, costumes e espiritualidades. No período pré-colombiano, estima-se que havia mais de 90 milhões de indígenas em todo o continente americano. Contudo, o genocídio praticado pelos colonizadores — por meio das conquistas armadas, do contágio (muitas vezes proposital) de doenças, da brutalidade da escravidão e das condições impostas pelos europeus — resultou em uma trágica redução populacional.

Com o passar do tempo, à medida que o indígena deixou de ser necessário como escravo, passou a ser considerado um obstáculo ao avanço da colonização e à posse das terras cobiçadas. Assim, intensificou-se o processo de expropriação e violência, que incluiu massacres, remoções forçadas e a negação dos direitos territoriais.

Apesar de todo esse histórico de violência, os povos indígenas nunca foram passivos. Sempre foram agentes de sua própria história, criando múltiplas estratégias de resistência e sobrevivência — com negociações, conflitos, adaptações e a defesa incansável de suas culturas e territórios.

Hoje, a luta continua: o avanço do agronegócio, a mineração predatória e a omissão estatal seguem ameaçando suas terras e sua autonomia. Celebrar esta data não basta; é necessário reconhecer que a sobrevivência indígena é, antes de tudo, um ato político de resistência.

Relembrar é, também, denunciar as estruturas que perpetuam o epistemicídio e a desigualdade. Que este dia nos lembre de ouvir as vozes originárias, honrar suas demandas por justiça e repensar nosso lugar em uma sociedade construída sobre o sangue e a resistência dos primeiros donos desta terra.

Referências:
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.
RIBEIRO, Berta. O índio na História do Brasil. 12. ed. São Paulo: Global, 2009.