Dia Nacional de Luta Contra às Drogas: Entre Muros Invisíveis e a Guerra que Nunca Acaba
No dia 20 de fevereiro, é celebrado o Dia Nacional de Luta Contra às Drogas, uma data que, mais do que um marco simbólico, nos convida a refletir sobre as políticas públicas, os discursos e as práticas que envolvem o combate às drogas no Brasil. No entanto, longe de ser uma celebração, essa data deve servir como um momento crítico para questionarmos: quem realmente é afetado por essa "guerra"? E quais são os reais objetivos por trás das ações que vemos sendo implementadas?
Um exemplo emblemático dessa problemática é a construção do muro da Cracolândia em São Paulo, em 2012 inicialmente seguido por diversas medidas que visavam mascarar a realidade, até cominar na construção de mais um muro em 2025. À primeira vista, a obra foi justificada como uma medida para "proteger" a área e "combater" o tráfico de drogas. No entanto, o que se viu foi uma tentativa de ocultar a realidade, escondendo os usuários e a miséria social que os cerca, em vez de oferecer soluções efetivas. O muro, literalmente, ergueu uma barreira física que simboliza a invisibilização de um problema estrutural: a falta de políticas públicas que abordem as drogas de forma humanizada, com foco na saúde e na reinserção social.
Essa lógica de "esconder para não resolver" não é exclusiva de São Paulo. Em Dourados, cidade localizada na fronteira do Brasil com o Paraguai, a dinâmica do combate às drogas também reflete uma política de segregação e violência. A região fronteiriça, marcada por uma intensa circulação de pessoas e mercadorias, é frequentemente estigmatizada como um "corredor do tráfico". No entanto, essa narrativa ignora as complexidades históricas e sociais que permeiam a região. A "guerra contra as drogas" acaba servindo como justificativa para a militarização da fronteira, a criminalização de comunidades indígenas e a repressão violenta contra populações marginalizadas.
É importante lembrar que o discurso da "guerra contra as drogas" não é novo. Ele se insere em uma longa trajetória histórica que remonta ao início do século XX, quando o uso de determinadas substâncias começou a ser associado a grupos étnicos e sociais específicos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o ópio foi vinculado aos imigrantes chineses, e a maconha, aos mexicanos. No Brasil, a criminalização das drogas sempre esteve atrelada ao controle de populações pobres, negras e indígenas. Essa perspectiva histórica nos mostra que o combate às drogas nunca foi neutro: ele sempre serviu como uma ferramenta de opressão e manutenção de hierarquias sociais.
Hoje, vemos os efeitos devastadores dessa política. A militarização do combate às drogas não reduziu o consumo nem o tráfico; pelo contrário, alimentou um ciclo de violência que vitima principalmente os mais vulneráveis. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostram que mais de 30% dos presos no Brasil estão encarcerados por crimes relacionados às drogas, a maioria deles jovens, negros e pobres. Enquanto isso, o tratamento de usuários como uma questão de saúde pública continua sendo negligenciado.
Em Dourados, a realidade não é diferente. A cidade, que faz parte de uma região marcada pela presença de comunidades indígenas e por uma intensa circulação de mercadorias, é frequentemente palco de operações policiais que pouco fazem para resolver o problema das drogas. Pelo contrário, essas ações reforçam o estigma sobre a região e perpetuam a violência contra grupos já marginalizados.
Neste Dia Nacional de Luta Contra as Drogas, é urgente repensarmos as políticas que têm sido implementadas. A construção de muros, sejam eles físicos ou simbólicos, não resolve o problema das drogas. É preciso investir em políticas públicas que abordem o uso de drogas como uma questão de saúde, e não de segurança. É necessário olhar para as raízes históricas e sociais do problema, entendendo que a criminalização e a repressão só servem para perpetuar a violência e a desigualdade.
A luta contra as drogas não pode ser uma guerra contra as pessoas. Ela deve ser uma luta por dignidade, por direitos e por uma sociedade mais justa. E isso só será possível quando deixarmos de lado os muros que nos separam e começarmos a construir pontes que nos unam.
PET História UFGD
20 de fevereiro de 2025